quarta-feira, maio 30, 2007

A Maldição do Conhecimento

Olá, pessoal!

Quero compartilhar com vocês a missão da minha empresa:
Ficou claro? Muito bem! Agora conheçam nossa estratégia para atender a missão:


Se você (assim como eu) não sabe ler partitura, não entendeu absolutamente nada, por isso não percebeu que os símbolos apresentados são, na realidade, trechos da música tema do filme "Coração Valente".

Pode parecer piada, mas infelizmente muitas empresas compartilham missão, visão, valores e estratégia mais ou menos dessa forma, ou seja, poucas pessoas entendem realmente o que os líderes querem dizer.

Em recente artigo publicado na coluna Antevisão da revista Harvard Business Review (volume 84, dezembro/2006), Chip e Dan Heath falam sobre "A Maldição do Conhecimento".

Essa "maldição" normalmente recai sobre empresas onde os executivos estão a muito tempo imersos na lógica e convenções do negócio. Na tentativa de sintetizar os dados concretos que estão armazenados em suas cabeças, estes executivos acabam transmitindo uma mensagem inteligível aos níveis tático e operacional.

Inclusive, no artigo é citado um exercício muito interessante feito por uma aluna de pós-graduação da universidade de Stanford em 1990. O exercício ilustra claramente a "maldição do conhecimento".

Uma turma de voluntários foi dividida em dois grupos: um grupo tamborilava e o outro grupo ouvia. Cada membro do primeiro grupo tinha que escolher uma canção popular e tamborilar a melodia em uma mesa. O ouvinte tinha que descobrir a música.

No decorrer do jogo foram tamboriladas 120 canções, apenas três foram identificadas corretamente pelos ouvintes, ou seja, um indíce de acerto de 2,5%.

O interessante é que, quando solicitados que estimassem a probabilidade de acerto dos ouvintes, quem tamborilava previa como 50% a probabilidade de acerto. Ou seja, estimavam um acerto a cada quatro tentativas, quando na realidade foi um acerto a cada 40 tentativas.

A explicação para tal discrepância é que ao tamborilar uma canção, a pessoa ouve a melodia em sua cabeça, já quem escuta não compreende mais do que uma "espécie bizarra de código Morse". As canções eram tão óbvias para quem tocava, que as dificuldades dos ouvintes os deixaram estupefatos.

É nesse momento que entra a "maldição do conhecimento". Quando sabemos algo, é difícil ignorar essa informação, o que reflete na hora de partilhá-lo com outras pessoas, pois é difícil recriar o estado da mente de outra pessoa.

Isso é o que acontece com boa parte dos executivos que tentam transmitir a estratégia para a organização. Eles "tamborilam" uma mensagem muito clara na sua mente que não passa de barulho para os colaboradores, muitas vezes virando motivo de chacota nos corredores da empresa.

Para "quebrar a maldição", os executivos devem traduzir a mensagem de uma forma concreta, clara e simples e não somente fixar um quadro com a "Missão" pelas salas da empresa. Todos devem "comprar" e se identificar com a missão da empresa, ela deve fazer parte do dia-a-dia de todos.

Parece óbvio né? Ganha um doce quem souber a missão da empresa e souber como seu trabalho contribui para a realização dela (não vale olhar na intranet ou no quadro que fica na entrada da empresa!).

É... Acho que não está mais tão óbvio assim, né?

Não pensem que foi por acaso que coloquei a música do filme "Coração Valente" no início. Considero William Wallace um exemplo de líder que soube passar uma mensagem simples, clara e objetiva. O que começou como uma vingança pela morte da esposa se transformou na luta pela liberdade de um país!

"LIBERDADE" era a missão de Wallace, e ele conseguiu transmití-la a milhares de pessoas. Essa missão continuou viva, mesmo após a sua morte (bom, o filme é baseado na história real de William Wallace, espero não ter desapontado ninguém por ter contado o que acontece no final).

Um dos pontos altos do filme é o famoso discurso de Wallace em Stirling, pouco antes da bela batalha onde poucos escoceses derrotaram um exército completo de ingleses.

No discurso, Wallace passa de uma forma muito emocionante a missão dele e de todos que lutavam ao lado dele... Recomendo que vejam (ou revejam), com certeza é um ótimo exemplo de como compartilhar uma causa.




Conclusão

É isso aí pessoal! Está dado o recado. Se você, caro leitor, é alguém que decide ou atua na decisão da estratégia de uma empresa, por favor, considere os pontos que compartilhei por aqui. Se você, caro leitor, é obrigado a executar um trabalho que mal sabe no que contribui para a realização da missão, tente passar essa mensagem para os executivos da sua empresa.

Fiquem a vontade para deixar seus comentários, como sempre, concordando ou discordando com o que escrevi.

Ahhh... Vale comentar que essas idéias valem para qualquer tipo de organização, seja ela do 2º ou 3º Setor.



Agradecimento

Muito obrigado a todos que acompanham esse humilde espaço e dispõem do seu tempo para ler minhas viagens psicodélicas =) Vou me esforçar para não ficar tanto tempo sem postar.

Um abraço e até a próxima, se Deus quiser!
Alessandro.
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